Aquele jantar do Oriental

Recordo nesta crónica quinzenal um jantar em que participei no Restaurante Oriental por ocasião da aprovação do programa eleitoral do Partido Socialista às eleições autárquicas em 2013. Estranho quem estranha que no PS, em Guimarães, se debate, se discute, se diverge. E estranho sobretudo porque que essa prática não é de hoje. No jantar do “Oriental”, reservado, à cúpula do Partido Socialista, estive em representação da Juventude Socialista que liderei entre 2011 e 2013, jantar que se destinou a fechar o Programa Eleitoral que veio a ser largamente escolhido pelos vimaranenses. Coordenado por Rio Fernandes, insuspeito Professor da Universidade do Porto, o trabalho apresentado resultou de sete fóruns realizados pelo concelho. Ouviu simpatizantes, militantes, dirigentes e autarcas do Partido Socialista destacando a necessidade de investir na rede de transportes públicos de Guimarães e na mobilidade dos vimaranenses. Foi o que maioritariamente se discutiu e reclamou. Recordo este jantar porque, creio, foi embrião do extraordinário momento político que vivemos hoje, consolidando a reflexão e consciencialização sobre a necessidade de adoção de políticas públicas na área da mobilidade e em particular dos transportes coletivos de passageiros em Guimarães. Recordo-o, porque naquele jantar fiquei sozinho. Sozinho na defesa de uma visão utilitarista dos transportes públicos e que contrariava a ideia dominante de que “Guimarães se deveria orgulhar porque a concessão vigente dos transportes públicos desonerava o Orçamento Municipal”. Desse jantar até hoje mudaram os protagonistas e com eles mudaram as ideias e as políticas. Ao nível nacional já não governa o PSD/CDS que desinvestiu nos transportes públicos. Governa o Partido Socialista que operou nesta matéria uma verdadeira revolução. O Programa de Apoio à Redução Tarifária permite, já em abril, às famílias de todo o país gastar menos dinheiro nos transportes públicos. Em Guimarães o Município apresentou um plano para reforçar a rede de transportes públicos. Novas linhas que cobrem mais território, mais frequência de autocarros, intermodalidade dos autocarros com os comboios da CP, bilhética integrada (despenalizando os transbordos), passes e bilhetes reduzidos, e gratuitos para públicos alvos a conquistar e fidelizar (jovens e adolescentes). Para que se perceba o impacto destas medidas tomemos como exemplo uma família com dois filhos que, atualmente, pode chegar a pagar por ano um valor de mais de 800€ em transportes públicos para que os seus filhos possam frequentar a escola. Ou uma família de Moreira de Cónegos, Lordelo ou Nespereira que passarão a beneficiar da integração do passe da CP com o passe dos Transportes Urbanos beneficiando, assim, de uma poupança anual, para uma família de quatro pessoas, que pode ser superior a 300€. Num concelho fustigado pelos salários baixos, uma medida como esta, somada às outras medidas já em curso de aumento de rendimento, constitui mais um forte balão de oxigénio para as famílias. São, por isso, medidas do ponto de vista da coesão social extraordinariamente importantes para Lordelo, para Moreira de Cónegos, para Serzedelo e Gandarela, para as Taipas, para Ponte, para Silvares, para a cidade. Enfim para todo o Concelho. Mas sobretudo esta vitória coletiva é determinante para cumprir o objetivo de descarbonização da nossa sociedade, o objetivo de construção de um futuro sustentável e que vai ao encontro da agenda ambiental que Guimarães abraçou. Aquele jantar do Oriental ensinou-me duas coisas: quando se representa a voz de uma maioria nunca estamos sozinhos; e sobretudo ensinou-me que vale a pena lutar pelo que acreditamos. A realidade acaba por se impor. Luís Soares, 35 anos, Licenciado em Direito pela Universidade de Coimbra. Lidera a Concelhia do Partido Socialista em Guimarães desde 2018 e desempenha o mandato de Deputado à Assembleia da República e de Presidente da Junta de Freguesia de Caldelas, Vila das Taipas.